Investimentos
08/03/2023
Existe uma visão muito distorcida por parte dos brasileiros de que investir é ter em carteira ativos que estão sempre subindo e que isso vai levá-lo a um outro patamar…
Mas já parou para pensar o porquê isso é dito?
A resposta é que isso vende.
Esse mês vou trazer um aspecto que vende muito menos, que tem muito menos glamour do que é mostrado nos filmes sobre o mercado, mas é o que funciona no fim:
Ficar rico leva tempo, mas você pode encurtá-lo se tiver consistência.
Ver seu patrimônio se multiplicar depende de três variáveis:
- Dinheiro: quanto dinheiro temos hoje e quanto conseguimos aportar ao longo do tempo;
- Tempo: por quanto tempo esse dinheiro ficará investido;
- Retorno: quanto o dinheiro vai render ao longo dos diferentes ciclos econômicos.
Dessas três variáveis, duas podemos ter (quase) total controle, sobre a última não temos controle algum…
É sobre essa sem controle, que o brasileiro tende a depositar todas suas fichas e esforços. É sobre um retorno, que depende de n outras variáveis a quem o brasileiro confia seu futuro.
Mas o intuito aqui é mostrar o impacto da educação financeira, e por consequência, da consistência nos aportes ao longo da sua vida.
A título de ilustração, você perceberá a diferença enorme causada ao longo de 40 anos, de uma pessoa que investe, mas não reinveste os dividendos recebidos, e de outra que reinvestiu todos os dividendos recebidos, ambas no mesmo ativo.
A pessoa número 01, que nunca reinvestiu, teria alcançado um retorno de aproximadamente 2.700%, enquanto a pessoa número 02, teria alcançado um retorno na ordem de 8.000%.
Agora imagine se, além de reinvestir os dividendos, você conseguir manter seus aportes, com consistência, ao longo de toda trajetória. Seus resultados seriam ainda mais surpreendentes. E não existe muito segredo nessa “receita”:
Investir todos os meses, continuar comprando bons ativos enquanto eles continuarem sendo bons ativos, reinvestir os ganhos, repetir.
Ao tentar personificar esse tipo de raciocínio, um nome vem à cabeça: Warren Buffet. Detentor de uma das maiores fortunas do mundo (5ª maior fortuna, no momento em que redijo esta), tem 99% do seu patrimônio sendo “criado” a partir dos 50 anos. Buffett alinhou com exímia maestria os dois conceitos (tempo e dinheiro) em que era capaz de controlar e ficou muito bom em identificar quando o terceiro conceito (retorno) pudesse ajudá-lo na construção.
Seguindo essa mesma linha, é possível encontrar estudos que demonstram que, aproximadamente, 90% do resultado financeiro de um investidor vem de ficar no mercado e investir todos os meses, com uma estratégia diversificada de alocação, mantendo-a funcionando ao longo da vida; e apenas 10% do resultado vem da escolha dos ativos.
E isso é totalmente contrário à realidade que enxergamos no Brasil.
As pessoas querem aprender tudo, fazer tudo e acreditam piamente que, farão uma gestão de investimentos, sozinho, melhores do que equipes com mais de 100 pessoas e com experiência de décadas.
E esse comportamento do brasileiro me fez lembrar de uma roda de conversa em que participei há algumas semanas, junto com Tito Gusmão, um dos participantes do início da XP, sobre o futuro do mercado de alocação e o conflito de interesses existentes no modelo de Assessoria de Investimentos (Agentes Autônomos).
Em certo momento, ele fez um comentário pertinente que remete bem à forma que o investidor brasileiro busca se aprofundar nos investimentos:
“Quando vamos a um psiquiatra, por exemplo, buscamos aprofundar em entender mais sobre a psique humana, seguindo os fundamentos de Freud, ou aceitamos o diagnóstico e seguimos? Por que então insistimos em querer ser o expert de investimentos para seguir em nossas alocações? ”
É com essa reflexão que gostaria de finalizar, além de trazer um exercício:
Agora, sabendo mais sobre o impacto dos aportes consistentes em sua construção patrimonial, o que você pode otimizar no seu controle orçamentário para aumentar em 10% seus aportes?
Nos vemos no próximo mês!